Cenário das Doenças Raras

O campo das doenças raras

As Doenças Raras (DR) têm recebido destaque em diferentes arenas públicas, ora em função da necessidade de formulação de políticas públicas para a população concernida, ora por aspectos de violação de direitos fundamentais, como o direito aos cuidados em saúde ou o direito ao acesso a benefícios sociais, sendo necessidades compartilhadas por grupos de pessoas afetadas em muitos países (1–6).

Trata-se, portanto, de um assunto complexo e multifacetado, que abrange uma diversidade de dimensões psicossociais que vão além do setor saúde (7–11). Nos debates públicos, em todo mundo, frequentemente são evocados os limites da acessibilidade, as falhas nos mecanismos sociais de proteção, a discriminação negativa e as longas jornadas em busca do acesso aos cuidados fornecidos pelos aparelhos estatais de educação e seguridade (10,12).

E estes temas precisam ser abertamente discutidos por toda a sociedade, com vistas à construção de respostas legítimas.A construção de políticas públicas para pessoas com doenças raras deve seguir o círculo virtuoso do ciclo de vidas das políticas públicas, com a identificação do impacto real dos problemas ou demandas anteriormente citadas, o que pode requerer a oitiva de grupos específicos (pessoas afetadas, familiares, cuidadores, profissionais de saúde, pesquisadores etc.), a construção de proposições baseadas nas melhores evidências disponíveis (13,14), seguindo-se o cotejamento destas informações com todo aparato regulatório e ordenador do Estado. Iniciativas desta natureza têm sido organizadas em diversos países (15–28).

E, para que tal finalidade seja alcançada – a construção e implementação de políticas públicas – faz-se necessário avanços na coleta e organização das informações atualmente disponíveis, assim como a geração de novos dados que preencham as lacunas de conhecimento sobre a população concernida, mediante a realização de estudos quantitativos (censos, enquetes etc.) e estudos qualitativos que mesclem e incluam elementos biopsicossociais e não apenas necessidades médicas (3,29–34). No entanto, o volume de estudos com este último perfil ainda é modesto (35–38), ressalvando-se as iniciativas de consórcios de associações de pacientes e outros atores, como é o caso da Eurordis e da Rare Diseases International, que têm realizados surveys com a população, como o EURORDIS Rare Barometer Programme .

Contexto brasileiro

No contexto brasileiro, existe uma importante lacuna na organização de dados epidemiológicos e na construção de ações programáticas de pesquisa que gerem novos dados robustos, sobretudo àqueles relacionados à frequência, distribuição e cuidados ofertados para as condições raras (39).

Deve-se dar destaque a ações que têm sido fomentadas pelo poder público, visando compreender as características do modelo assistencial vigente e da população assistida por centros de referência (40).

De modo geral, predominam os agregados observacionais de dados clínicos (41), com predomínio de ações pontuais que respondem aos objetivos de grupos de pesquisas estabelecidos nos cenários assistenciais. As informações sobre a dimensão econômica e de valor assistencial têm sido direcionadas principalmente à assistência farmacêutica (42–46).

Dificuldade na geração de dados, informações e conhecimento em saúde pública.

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